segunda-feira, 29 de julho de 2013

Artistas 'demitem' secretário que há quase 20 anos dá as cartas na cultura paraense
Arquiteto Paulo Chaves Fernandes, o 'pavão misterioso', é acusado de priorizar um estilo de arte que remete à bela época do ciclo da borracha e que estaria desligado das propostas da sociedade
Belém – O arquiteto Paulo Chaves Fernandes permanece há vinte anos dando as cartas na política cultural do Pará. Ligado a governos do PSDB, ele comandou a Secretaria Estadual de Cultura durante quase todo esse período (interrompido uma única vez, pela gestão de Ana Júlia Carepa, PT, entre 2007 e 2010). Entretanto, a longevidade não se sustenta no desejo da sociedade. Ao menos é o que faz crer a onda de protestos contra o governo do estado, especialmente nas últimas semanas, em Belém.
Artistas e intelectuais deixaram os palcos, ateliês, estúdios e academia e ganharam as ruas da capital paraense reunidos em um movimento batizado de Chega!, que deflagrou manifestações de parar o trânsito. É gente que exige a saída do secretário, a abertura de canais de discussão da política pública e a criação de editais para descentralizar verbas, fomentar a produção, a circulação e o acesso do povo às atividades artísticas.
Na carta pública lida pelo ator Alberto Silva Neto no dia 9 passado, durante um dos festivais organizados pelo governo, o Terruá Pará, o movimento afirmou que tem como tarefa “tornar representativa uma política que há décadas não representa nem a sociedade nem os artistas, e que tem caminhado na contramão do interesse público”.
Seguiram-se duas passeatas pelas ruas de Belém (a última no dia 25), na direção da Secretaria de Cultura (Secult). Em ambas, os manifestantes encontraram os portões trancados e promoveram a ocupação das calçadas, com a participação de grupos de teatro, música, artistas plásticos e até integrantes de uma escola de samba. Na ausência de uma fala oficial, fizeram também a leitura de uma carta de demissão simbólica do secretário.
A permanência de Chaves por tão longo período é justificada pela administração com o argumento de que com ele iniciou-se uma boa fase de recuperação do patrimônio histórico. As obras teriam incrementado o turismo.
Exemplo deste tipo de intervenção na paisagem urbana é a Estação das Docas, inaugurada em 2000 sob projeto arquitetônico do próprio secretário. A obra ocupa três galpões do antigo porto de Belém, inaugurado em 1909, agora transformado em complexo turístico. A Estação das Docas abriu janela para a Baía do Guajará, que banha a cidade, e agrega em 500 metros de orla restaurantes, teatro e stands de vendas de produtos regionais.
Entretanto, mesmo procedimentos como este, uma espécie de vitrine da gestão, sofrem fortes críticas. As acusações são de que eles não são feitos para usufruto da população em geral. Estariam mais interessados em alimentar o imaginário extemporâneo de uma elite rentista, na chave belle époque que remete ao ciclo econômico da borracha ocorrido nas últimas décadas do século XIX, quando Belém fora chamada a “Paris da América”.
Entre as vozes rebeladas está a do jornalista Lúcio Flavio Pinto, um dos maiores especialistas em assuntos relacionados à região Amazônica.
Para exemplificar o que chama de “visão elitista, autoritária e intervencionista da cultura” ele se refere a duas das obras de Chaves: a intervenção no Forte do Castelo (marco fundador da cidade) e a Igreja de Santo Alexandre (antigo complexo jesuíta de fins do séc XVII, transformado no Museu de arte sacra do Pará):
“Ele pôs abaixo o muro do Forte do Castelo. Realmente a fortificação ganhou destaque, mas o muro era um componente histórico, não podia simplesmente ser eliminado. O que ele fez em Santo Alexandre foi pior ainda. Eliminou a igreja, reduzindo-a a local de casamento para ricos, que podem pagar as altas taxas cobradas. No restante do tempo a igreja é um museu - e insípido. Santo Alexandre deveria continuar a desempenhar sua função litúrgica e ser acessível a todos, não apenas a enricadas família casadoiras. Só respeita o testemunho histórico dos prédios e das outras formas de expressão da cultura no limite da criatividade dele, do seu desejo de impor sua marca”.
A acusação de arrogância e distância das bases é compartilhada  nos bastidores do próprio governo. O folclore que empresta ao secretário apelidos nada elogiosos, como “o pavão misterioso” da cultura, não impediu que o mesmo permanecesse até aqui como uma espécie de mal necessário à gestão tucana. Ele parece não se importar.
Não faltam exemplos em que a gestão pública é pintada com o verniz da vaidade. O mais flagrante entre todos provavelmente é o retrato de si próprio e em tamanho gigante que Chaves mandou afixar em parede inteira do teatro Maria Sylvia Nunes, no mesmo complexo Estação das Docas. Mais que a homenageada – pesquisadora do teatro e viúva do filósofo Benedito Nunes –, o secretário julgou que era a sua própria imagem a que deveria iluminar o caminho para a entrada do público.
Se por um lado ações como esta causam algum eventual constrangimento e desgaste político – que só agora periga incomodar – por outro há a visibilidade de obras que mesmo questionadas deixam, na avaliação do PSDB, bom saldo político.


Baixo aproveitamento social
O economista Valcir Santos, coordenador do Fórum de Cultura de Belém, reforça a leitura de que há contradição entre o que parece saltar aos olhos e o seu aproveitamento social – um dos argumentos das lideranças do movimento.
“É uma política presunçosa, que no caso das obras se caracteriza por intervenções pontuais e com pouca relação com o seu entorno. São enclaves, condomínios fechados, como é o caso da Estação das Docas, que praticamente não tem relação com o Ver-o-Peso, o que é um absurdo, pois se trata não só do principal cartão postal de Belém, como também a expressão da diversidade cultural da cidade, sobretudo pela relações de trocas simbólicas e de produtos envolvendo a  cultura ribeirinha e as diversas manifestações da cultura contemporânea.”
A falta de ações direcionadas ao interior do estado também é crítica recorrente: “Os projetos de interiorização elaborados pelos técnicos da Secult foram, sistematicamente, abortados. O modelo da capital foi apresentado ao interior como um modelo a ser imitado, sem que, no entanto, lhe fosse cedido meios para o fazer”, diz o professor da Universidade Federal do Pará e jornalista Fabio Castro.
Na peça orçamentária colocada à disposição pela Secretaria de Planejamento e finanças (Sepof), não é difícil identificar estas assimetrias.
O orçamento da Secretaria de Cultura totaliza em torno de R$ 98 milhões projetados para 2013. Chama a atenção o fato de que há poucas referências a ações de interiorização (para a interiorização da orquestra do Teatro da Paz são previstos R$ 650 mil). É evidente o contraste entre o volume de recursos destinados à “realização de grandes festivais”, como o Festival de Ópera e Feira do livro  (em torno de R$ 10,8 milhões), e o “apoio às manifestações culturais” (R$ 1,7 milhão)  e “ações de capacitação cultural” (R$ 235 mil).
O movimento acusa então o governo de uma “ação entre amigos”, com privilégio a determinadas áreas e ênfase em eventos, como diz o artista plástico Armando Sobral:
“O que existe é uma agenda de shows, feiras, festivais e comemorações. Nas artes visuais o único edital que oferecia recursos financeiros para exposições nas salas dos museus do Estado foi extinto assim que ele assumiu a secretaria. Manteve apenas o edital de pauta, mas sem um centavo de apoio.”
Procurado pela reportagem, o governo não se pronunciou. Informou que o Secretário de Cultura Paulo Chaves Fernandes não está autorizado a falar. Seu superior, Alex Fiúza de Mello, secretário especial de Promoção Social, está em licença e “incomunicável”, segundo informação do gabinete.
Antes de ficar "incomunicável", Mello concedeu breve entrevista ao jornal O Diário do Pará, em que, a despeito de ser um reconhecido cientista político e ex-reitor da Universidade federal do Pará, confunde gestão com voluntarismo. E, em uma fala em que cita entre outras coisas a busca de “eficiência” onde ela dificilmente pode ser aferida (a produção artística), defende tese preocupante: a de que a política pública é movida por “razões subjetivas”. E arremata: “Essa matéria nunca terá consenso. Se atendemos um segmento, não atendemos outros. Sempre haverá uma seletividade, porque o estado não pode ser ineficiente”.
A julgar pelas vozes que vêm das ruas seria preciso avaliar se o caráter seletivo e a dose de subjetividade na política cultural do Pará não têm sido excessivos nestes últimos vinte anos. É importante esclarecer também sobre qual medidor o governo tem usado para atestar a qualidade das manifestações culturais. E, ainda, que ganhos efetivos a atual gestão deixa, sobretudo para a maior parte dos artistas e para a população, que, pelo desejo do governo, devem continuar à margem de uma discussão mais aberta e minimamente objetiva sobre as ações públicas para a arte e a cultura no Estado. Antes disso, porém, os artistas prometem continuar fazendo barulho até que sejam ouvidos.


por Kil Abreu, especial para a RBA publicado 29/07/2013 09:41

terça-feira, 21 de junho de 2011

ESPETÁCULO SEVERA ROMANA - PARTE VIII - RESULTADOS FINAIS DE CENÁRIO E FIGURINO

Cenógrafo Carlos Henrique e a Atriz Soane Guerreiro como Severa Romana
Cenógrafo Carlos Henrique, elenco do espetáculo Severa Romana e o autor do texto Nazareno Tourinho


“Severa Romana” é um espetáculo escrito pelo escritor e dramaturgo paraense Nazareno Tourinho, no qual relata um crime brutal e horroroso que ocorreu às sete horas da noite, no dia dois de julho de 1900, no qual uma mulher comum de 19 anos, maranhense de nascimento, grávida de sete meses, para defender sua honra prefere morrer a se entregar a um homem que vivia lhe assediando de maneira descarada e infame. Por seu heroísmo, pela defesa de sua honra e do seu casamento foi elevada à categoria de Santa pela população, sem outorga de qualquer entidade religiosa.
O espetáculo fez temporada dos dias 20 a 24 de janeiro de 2010, no Teatro Waldemar Henrique, na Praça da República em Belém do Pará, no horário das 20 horas.



Cena do espetáculo Severa Romana - Edinelson Monteiro e Soane Guerreiro

Cena do espetáculo Severa Romana - Wagner Ataíde e Soane Guerreiro
Elenco do espetáculo Severa Romana - registro fotográfico - Wagner Ataíde, Dina Mamede, Ângela do Ceo, Soane Guerreiro.
Cena do espetáculo Severa Romana - Ângela do Ceo e Wagner Ataíde.
Cena do espetáculo Severa Romana - Soane Guerreiro e Edinelson Monteiro
Cena do espetáculo Severa Romana - Wagner Ataíde e Soane Guerreiro
Cena do espetáculo Severa Romana em cena Wagner Ataíde, Dina Mamede Ângela do Ceo e Edinelson Monteiro
Cena do espetáculo Severa Romana -  Edinelson Monteiro Soane Guerreiro 
Elenco do espetáculo Severa Romana - registro fotográfico Dina Mamede, Edinelson Monteiro, Soane Guerreiro, Wagner Ataíde e Ângela do Ceo

ESPETÁCULO SEVERA ROMANA - PARTE VII - ARTE E FICHA TÉCNICA

Ficha Técnica

Cenografia e Figurino
Carlos Henrique

Cenotécnico

Carlos Henrique e Hildenise

Sonoplastia

Nelson Borges, Pedro Silva e Ezequiel Negrão

Maquiagem

Nelson Borges

Iluminação

Melba Lóes e Edineusa Costa

Preparação de Atores

Dody Amâncio e Nelson Borges

Design Gráfico

Edinelson Monteiro

Assessoria de Imprensa e Divulgação
Edinelson Monteiro

Contra-Regra

Helena Ferreira e Samara Batista

Produção Executiva

Marília Moraes

Texto

Nazareno Tourinho

Direção Geral
Lúcio Martins









ESPETÁCULO SEVERA ROMANA - PARTE VI - CONCEPÇÃO DO FIGURINO

Descrição do Figurino

O figurino é naturalista, baseado na moda do começo do século XX. Será confeccionado todo em algodão cru, com cores do próprio algodão cru ou cores ocres, basicamente cores neutras para que a luz seja refletida nele, dando a temperatura do espetáculo sobre os personagens em cena. Os dois personagens masculinos terão fardas militares, uma de soldado e outra de cabo. Severa terá uma roupa de grávida usada, na época, por mulheres pobres. A vizinha terá três figurinos: uma roupa do dia-a-dia, outra de macumbeira e outra de gala. Joana Gadelha terá uma roupa de velha, própria do começo do século XX.













ESPETÁCULO SEVERA ROMANA - PARTE V - CONCEPÇÃO DO CENÁRIO






Descrição do Cenário

O cenário será construído todo de caibros, com casca, a fim de que tenhamos a tonalidade cinza, nas paredes. Eles serão arrumados de forma que lembre uma parede de taipa, mas não haverá enchimento. A proposta é termos as paredes de taipa totalmente vazadas e que o público perceba a ação também através das frestas. Teremos uma cozinha do lado esquerdo, uma sala no centro e um quarto no lado direito. A ambientação é o interior de uma casa simples e pobre, com objetos de cena como fogão, mesa, cadeiras e cama, compondo um cenário bastante naturalista.






























ESPETÁCULO SEVERA ROMANA - PARTE IV - PESQUISA DE REFERÊNCIAS

Uma historia famosa na sociedade paraense, que ocorreu mais de um século, reflete a moralidade daqueles tempos: no ano de 1900.

Severa Romana testemunha de fidelidade à vida conjugal, era filha de imigrantes italianos de origem humilde, pariu de sua terra, junto com seu marido à Belém do Grão-Pará em busca de uma vida melhor, para eles e garantir o futuro do filho que vira a nascer. Ao chegar conheceu a Senhora Joana Gadelha que lhes oferece um quartinho de seu humilde barraco para acomodar-lhes, e os mesmos pagassem um preço módico pelo aluguel. O barraco localizava-se entre os números 513 e 521, da Rua João Balbi, entre a Alcindo Cacela e 14 de Março, propriedade de sua comadre Joana Gadelha. O terreno atualmente é ocupado pelo Edifício Antônio Júnior. Aos 17 anos casou-se com um jovem, também de origem modesta, o soldado Pedro Cavalcante de Oliveira, do 15° Batalhão de Infantaria. Sua mãe era lavadeira, tendo como freguesas as alunas do Colégio Santo Antônio, dirigido pelas irmãs Dorotéias. Ao longo de sua infância e adolescência, Severa era transportadora dessa roupa e foi graças ao contato com as freiras que aprendeu a ler e escrever, norteada pelos ditames da fé católica. Uma de suas mestras foi Madre Estefânia Castro, falecida aos 97 anos de idade no ano de 1959. A religiosa é apontada como uma das principais responsáveis por ter transmitido a futura milagreira a importância da fidelidade, entre os deveres conjugais.
Após dois anos de casamento, Severa Romana engravida. Estava no sétimo mês de gestação, quando o marido a apresenta ao Cabo Antônio Ferreira dos Santos, que se encontrava em Belém tranferido do 35° Batalhão de Infantaria do Ceará. O casal decide ajudá-lo, fornecendo refeições e roupa lavada ao militar mediante módico pagamento.
Antonio Ferreira não tardou em ficar fascinado com a beleza da esposa de seu amigo. Na noite do dia 02 de julho de 1900, sabendo que o soldado Pedro ficaria de sentinela no quartel, o cabo seguiu para casa em que estava sendo hospedado sobre o pretexto de jantar mais cedo. Logo após servida a refeição, investiu contra Severa, tentando possuí-la à força. Diante da veemente recusa da jovem, o militar muniu-se de uma navalha e feriu-a mortalmente.
A notícia do crime espalhou-se rapidamente pela cidade, deixando os moradores estarrecidos como nunca antes. A vítima imediatamente passou a ser reverenciada pela população como “mártir da fidelidade matrimonial”.

ESPETÁCULO SEVERA ROMANA - PARTE III - PESQUISA DE REFERÊNCIAS





A notícia do crime

Os primeiros jornais a noticiarem o crime foram “A Província do Pará e A Folha do Norte”.
A Província do Pará foi um veículo-chave para consolidar o mito de Severa Romana. Na semana seguinte ao crime, o jornal foi o único a fazer uma ampla cobertura daquele brutal crime e, até então, incomparável assassinato. Os repórteres escreveram extensos artigos que mobilizaram a opinião pública, não deixando o caso passar despercebido. Entre os artigos estão:
“Uma fera fardada – A confissão do crime” ( pág. 03 – 03 de julho de 1900)
“Sátiro Assassino” (pág. 02 – 04 de julho de 1900)
“Heroína da honra” (domingo – 08 de julho de 1900
A Folha do Norte
“Assassinato Bárbaro” (pág. 02 – 03 de julho de 1900)
As microfilmagens desses jornais encontram-se na Biblioteca Artur Viana – Belém, Pará.


A imagem do mistério



Todo esse mito torna-se ainda mais instigante com o fato de que não existem fotos de Severa Romana. Mesmo na época de seu assassinato, o povo jamais teve a noção exata das feições de Severa. O retrato feminino colocado no cruzeiro sobre a lápide de Severa é o de uma decota carioca que alcançou uma graça junto à jovem milagreira. Em agradecimento, a fiel deixou na sepultura sua própria fotografia.